Quando o site Omelete visitou o set de filmagens de Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), teve a chance de conversar com Christian Bale em dois momentos distantes. Na primeira vez, entre takes, ele ficou poucos minutos e pouco falou. Na segunda, após um exaustivo dia de trabalho, o cansaço era visível em seu semblante e as respostas, bastante pausadas. Ao voltar para Gotham City, agora no set de Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, temos um Bale bem diferente, que estava sorrindo à toa - provavelmente porque estava um sol enorme e ele estava de folga, enquanto seu companheiro Tom Hardy torrava lá longe do ar-condicionado embaixo de um sobretudo com forro de pele.
Apesar de bastante cuidadoso com o que dizia (e de alguns palavrões), Bale usou tudo o que aprendeu nestes quase 10 anos em que é o Batman para falar sobre a psique do personagem, o momento em que ele se encontra, as filmagens com as câmeras IMAX, o que ele e Tom Hardy procuravam mostrar nas lutas e, principalmente, sua parceria com o diretor Christopher Nolan, a quem o ator chamou de "representando do público" dentro do set.
Leia abaixo a transcrição do bate-papo com o vencedor do Oscar Christian Bale.
Como é filmar com as câmeras de IMAX?
Christian Bale: Eu já tinha um pouco de experiência do último filme e de quando fizemos O Grande Truque (The Prestige), porque o Chris estava fazendo umas experiências já naquela época. Algumas coisas com o irmão gêmeo e tudo mais foram rodadas neste formato. É barulhento pra caramba trabalhar com aquelas câmeras. Você sabe desde o começo que vai ter que ir para o estúdio regravar as vozes depois sempre que tem uma câmera IMAX chegando. Mas sabe também que vai ter um visual maravilhoso. Era impressionante em Batman - O Cavaleiro das Trevas. Eu me lembro de estar na sala durante a premiere e as pessoas soltavam uns “Oooh!”, como se estivessem dentro do filme. É uma máquina e tanto.
Dá para falar do percentual de IMAX que está sendo usado neste filme?
Não faço a menor ideia. Melhor você perguntar para ele [Nolan]. Sou do tipo de ator que tende a não ligar para isso. Não fico perguntando “Vamos fazer um close up? É o take principal? É uma tomada mais aberta? Qual vai ser agora?” Se eu dou uma olhada e vejo a câmera, eu penso “Oh, é a grandona hoje, deve ser IMAX.” E meio que é isso. Não muda muito o que eu estou fazendo.
Várias fotos surgiram online de suas lutas com o Bane. Você acompanha isso?
Sim, estou vendo.
Existe um hype muito grande ao redor deste filme. Havia alguma dúvida na sua cabeça sobre voltar a trabalhar com Chris Nolan mais uma vez?
Eu sabia que ia fazer porque estava contratado para fazê-lo. Não tinha muita escolha. Eu ia levar um processo enorme e seria deixado no meio da rua sem um centavo se não estivesse aqui. [risos] Chris, até onde eu sei, poderia escolher se ia fazer ou não, mas ele sempre falava sobre o projeto todo como uma trilogia e ele adora o desafio de que vários dos filmes falharam nas suas terceiras partes. Temos aí algumas exceções, mas na maioria das vezes, é o mais complicado de se fazer. E acho que ele se motivou com este desafio.
Você pode falar sobre a relação de Bruce com Selena [Kyle, a Mulher-Gato] neste filme? Nós vimos umas fotos dos dois de mãos dadas...
Você viu? Você acha que viu. Mas será que viu mesmo? Ou será que as pessoas estão olhando para as coisas e não sabem o que estão vendo? É bem interessante assistir e ouvir o que as pessoas acham que nós estamos fazendo. Você vê algo e pensa “Isso não tem nada a ver com o que estamos fazendo. Mas deixa para lá, vamos deixar as pessoas acharem que é isso que estamos fazendo”.
Quanto ele se apaixona por ela?
Estou vendo isso à medida que as coisas estão acontecendo. E estou vendo o Chris sentado aqui neste ombro e Emma Thomas deste outro lado, enquanto vocês perguntam essas coisas, dizendo: “Não diga nada! Você sabe que não pode responder isso.” Acho que o melhor é deixarmos essa questão no ar até vocês verem o filme.
E sobre o trabalho com Marion Cotillard e Tom Hardy, dá para falar?
É um elenco muito bom de verdade. Eu trabalhei com Marion rapidamente em Inimigos Públicos (Public Enemies) e ela é uma atriz maravilhosa e versátil. Até agora, o trabalho com ela tem sido ótimo. Com Anne [Hathaway] a mesma coisa. Acho que ela está fazendo algo muito diferente do que as pessoas viram de seu trabalho até agora. E Tom, com quem eu tenho trabalhado incessantemente nas últimas semanas, é um ator fascinante. Ele tem criado ótimos personagens ao longo de sua carreira e este vai ser mais um. Ele é um tipo alegre, que traz essa energia para o set todos os dias. Ele tem um baita personagem para criar e ele é o cara. Estou muito impressionado com ele. Estou muito impressionado com o elenco todo.
Você pode falar sobre a coreografia das lutas entre vocês dois?
Nós temos ótimos chefes de dublês: Buster Reeves, que está com a gente desde o primeiro filme, e Tom Struthers. Funciona mais ou menos assim: eles meio que trabalham o que eles querem ver nas lutas, e Tom e eu trazemos a história para as lutas. Porque uma luta que é só porrada derrubando de primeira, todo mundo socando todo mundo, deixa de ser legal depois de um tempo. Você tem que pensar em uma forma de contar uma história dentro da luta. E você também pode arranjar uns lutadores treinados, que podem construir uma luta veloz e furiosa, mas não sei quanto a vocês, mas de vez em quando você vê uma luta de UFC e fica pensando "eu não sei o que está acontecendo". Parece uma grande bagunça. Às vezes você precisa apenas olhar tudo aquilo com os olhos de um cara como eu, que não sou um lutador treinado, para entender o que está acontecendo. E é impressionante a diferença entre esses fantásticos caras que vêm e fazem seus trabalhos e quando a gente, Tom e eu, entra e fala "ok, eu entendi isso, mas é nisso que eu estou pensando nesta hora, então preciso agir desta outra forma". E ver a cena de luta que tem uma descrição, um começo, meio e fim, é uma coisa maravilhosa, que ajuda a manter tudo mais divertido e tem um significado muito maior do que ficar mostrando uns movimentos de artes marciais.
Você está fazendo uma trilogia com Chris Nolan. Como estamos em um capítulo final, isso te dá liberdade para criar um bom arco para o personagem neste filme?
Eu não faço ideia do que o público vai achar do filme. Graças a Deus nós temos um cara como o Chris, que é ótimo em avaliar isso. Ele representa o público para a gente no set. Eu amo tanto este personagem que você teria um filme muito bizarro do Batman [se dependesse de mim]. As pessoas diriam “O que caralho? Por que nós estamos mergulhando tanto na sua psique?” Ele é um personagem fascinante e daí o Chris só tem que me dizer até onde ir sem deixá-lo entediante e chato a ponto de você não querer ver o que estou fazendo. É ótimo ter alguém como Chris no comando. Ele é confiante, sabe o que quer e faz as coisas sem precisar de uma rede de segurança. Em alguns momentos eu perguntei a ele "Você tem certeza que não quer que eu faça de um jeito diferente? Posso fazer de um outro jeito. E se você quiser mudar as coisas na edição depois? Posso fazer essa cena de uns três ou quatro jeitos diferentes", e ele me dizia apenas "Não. Eu sei o que eu quero. É exatamente isso o que eu preciso". Ele é muito firme no que necessita.O Batman é um personagem fascinante e há muitas histórias para se contar dele. Eu gosto da ideia de vê-lo envelhecendo a ponto de não conseguir mais fazer seu trabalho. Mas eu sinto que você deve saber quando sair ainda no auge e é assim que o Chris quer terminar. E acho que a hora é essa.
Você está feliz com a forma como a história termina?
Sim. Muito!
Pelo terceiro filme, o Batman ainda continua sendo motivado pela morte de seus pais? Ou ele aceitou uma responsabilidade maior por Gotham que dispensa este fato de seu passado?
Para mim, ele tem tudo. Está tudo lá. O que acontece é que ele ainda é, basicamente, aquela criança. A única coisa que eu sei com certeza, e está em uma cacetada de graphic novels, e nós brincamos um pouco com isso, é o lance dele ser um playboy versus o que nós fizemos, que é mostrar que ali está atuando, mas com seu coração longe dali. E o eterno dilema do Alfred ficar vendo este cara que não tem vida. Ele coloca sua vida inteira em modo de espera porque ele ainda liga para a morte de seus pais. Ele tem este furor em sua mente e emoções não deixam que ele esqueça a dor pelo que aconteceu com seus pais. Na maioria das pessoas, o tempo ajuda a cicatrizar as feridas, mas acho que com ele é diferente. Ele não quer esquecer. Ele quer manter a raiva que sentiu àquela injustiça e ao mesmo tempo ele quer apresentar esta persona sem alma a Gotham para que ninguém suspeite dele e continuem pensando nele como um riquinho mimado. Mas em seus momentos mais íntimos ele tem Alfred, ele tem Rachel e não há muito mais do que isso, porque ele freou este desenvolvimento. E o entendimento de que em algum ponto ele vai ter que começar a viver. Ele está bem atrasado em termos de curtir a vida. Tudo foi sacrificado e, em algum momento, Alfred espera, ele vai voltar a viver.
Seu cabelo está mais longo neste filme do que nos anteriores. Isso tem um significado?
Sim, este cabelo mais longo tem um pouco de... significado para a trama. A gente sempre dá uma bagunçada. Em cada filme que nós fizemos do Batman, nós fizemos coisas com o cabelo, adaptando o visual ao longo do filme. Quanto maior o cabelo, mais podemos brincar com ele. [se vira para os assessores de imprensa e diz] Estou fazendo um bom trabalho? Estou meio que respondendo às suas perguntas sem, na verdade, dizer nada.
Quanto tempo se passou desde o último filme?
Vamos dizer que alguns anos se passaram. Eu não sei se o Chris ia querer que eu dissesse exatamente quanto tempo. Mas posso dizer que não é no dia seguinte. Muita coisa aconteceu com ele.
Tem uma ligação direta de algum fato dos filmes anteriores para este?
Temos muitas novas descobertas, verdades vindo à tona e a grande pergunta, que é "qual a coisa certa a ser feita? Manter as mentiras e deixar as pessoas se sentindo bem ou contar a verdade e devastar suas vidas?" Então, a resposta é, sim, nós voltamos a Batman Begins e Batman - O Cavaleiro das Trevas e lidamos com muitas coisas dos dois filmes.
Você vai sentir falta de interpretar o Batman depois disso?
Claro que vou. Sim! Sim, com certeza!
E vai sentir saudade de vestir o uniforme?
Apesar do desconforto, o calor e todo o suor e dores de cabeça e tudo mais, quando você se senta e assiste ao filme, o que lhe vem à mente é "Bom, isso é legal pra caralho". Vou sentir falta. Eu gosto daquele retalho de borracha.
A terceira parte da trilogia de Christopher Nolan estreia no Brasil em 27 de julho.
Via Omelete/Marcelo Forlani
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